domingo, 11 de dezembro de 2011
Geologia médica, impactos do ambiente natural na saúde humana.
Geologia médica, impactos do ambiente natural na saúde humana.
Nas últimas décadas tem se destacado uma crescente tomada de consciência de que algumas mudanças do ambiente natural ocorrem em uma escala que afetam as ecologias globais: os sistemas, atmosférico, hidrogeológico e de produção de alimentos tem sido transformados em todo o mundo de forma que às vezes levam ao aparecimento (e/ou reemergência) de problemas de saúde em humanos e animais. Ainda que seja reconhecido que os fatores geológicos naturais jogam um papel central em uma quantidade de situações de saúde ambiental que afetam o bem estar de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo, existe uma falta geral de compreensão sobre a importância de tais fatores na saúde humana e animal por parte do público geral, a comunidade biomédica e de saúde pública, e a comunidade de profissionais das geociências e o ambiente. A geologia médica, a ciência que trata dos impactos dos materiais e processos geológicos naturais sobre a saúde animal e humana, tenta compensar essa falta ao aumentar a conscientização sobre esses assuntos nas comunidades biomédica e das geociências, e estimular uma maior colaboração entre estas disciplinas nas suas investigações.
Assim, a geologia médica pode ser considerada como uma disciplina complementária no campo estabelecido de saúde ambiental, focada na maneira como o ambiente natural afeta a saúde. Seus impactos, tanto prejudiciais como benéficos, têm sido conhecidos durante milênios, mas é apenas na última década que científicos interessados nestes fenômenos têm começado a organizar colaborações locais, regionais e globais nesta disciplina emergente da geologia médica.
Os geólogos médicos são científicos (geocientíficos, científicos biomédicos e de saúde pública, químicos, toxicologista, epidemiologistas, hidrologista, geógrafos, etc.) quem geralmente colaboram em uma ampla variedade de problemas de saúde ambiental em busca de suas causas e soluções. Entre estes problemas estão os impactos de poeiradas naturais; de elementos que ocorrem naturalmente em águas superficiais, águas profundas e terra; de processos geológicos tais como vulcões, erosões, terremotos, tsunamis e outros; da exposição ocupacional a materiais naturais, a radiação natural, etc. Muitos estudos da geologia médica têm estado orientados aos impactos de pó de variadas origens. As partículas de pó são um componente da atmosfera terrestre amplamente dispersas formando, com freqüência, plumas que derivam de vulcões, tormentas de pó, episódios de transporte a longa distancia de pó desértico (o assim chamado pó intercontinental) e de deslocamentos por processos naturais tais como desmoronamentos e terremotos. Estes fenômenos ocorrem em todos os continentes, incluindo, por exemplo, a mobilização de pó saariano para o sul da Europa e as Américas.
Os geólogos médicos estudam as fontes, ocorrência, distribuição, concentração, química, cristalinidade e morfologia de minerais (tais como asbestos, heroinita, sílica, pirita, etc.) que podem produzir problemas de saúde. Tratam de determinar as fontes, transporte e destino de elementos potencialmente daninhos como o arsênico, flúor, selênio, cobre, etc., assim como de estabelecer os canais de exposição e produzir mapas que ilustrem os fatores geológicos e geoquímicos locais, regionais e/ou globais e suas relações com problemas de saúde existentes ou potenciais. Um bom exemplo de investigação colaborativa é o caso do arsênico em Bangladesh e Bengala Ocidental, Índia. Nesta região, geólogos médicos trabalham para determinar a fonte dos altos níveis de arsênico em água de poços que põe em risco a saúde de até 100 milhões de pessoas.
Interciência marca um passo importante no crescimento e amadurecimento da geologia médica na América Latina e globalmente. O trabalho de Tommaso Tosiani, incluído neste número da revista, é somente um dos muitos que a revista antecipa publicar. No artigo, Tosiani descreve a ampla variedade de problemas de geologia médica que afetam a Venezuela, com atenção especial às fontes, distribuição e os efeitos que na saúde têm os elementos traça. A publicação deste manuscrito é uma demonstração mais de que a geologia médica toma arraigo no continente e que os profissionais da biomedicina, a saúde e as geociências pronto demonstrarão seu valor para Venezuela e o resto do mundo. Em nome da Associação Internacional de Geologia Médica e seus membros em todo o mundo, desejo felicitar a Interciência por sua visão em interesses no campo da geologia médica, e desejar-lhe muitos anos mais de contínua publicação de material sobressalente.
José A. Centeno,
Co-Presidente, Associação Internacional de Geologia Médica.
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